terça-feira, março 30, 2010

Comentando o texto de André e Angie (1)

Queridos,

Como prometido no comentário do blog anterior, vou postar, nos próximos dias, alguns comentários mais detalhados sobre o texto de André e Angie, sobre o discurso plástico em Cartier-Bresson e Verger. Como já disse no comentário, o texto é bom e revela qualidades suficientes para, mediante alguns ajustes, correr atrás de um veículo para publicação.

Observação de partida, que vale para todos nós que aqui (espero) escreveremos: se este texto houvesse sido publicado no blog, por assim dizer, aos poucos, talvez pudéssemos ter vivenciado um momentâneo incremento na vida deste blog, já que nos batemos por tanto tempo sobre as razões de sua não-continuidade. Vejo que os outros posts aqui blogados prezam por esta relativa brevidade do formato, sendo que o texto que ora comento nos foi apresentado na sua forma supostamente final, o que me força a esquartejá-lo, antes de tecer considerações sobre ele.

Pois bem, me deterei aqui na introdução do ensaio, quando se enuncia que "o propósito deste texto é observar certos aspectos que compõem os estilos da produção fotográfica de Cartier-Bresson e Verger para analisar alguns atributos da linguagem fotográfica que se coligam aos “modos de ver” de um e outro". Pois bem, não me parece que esta seja a melhor maneira de caracterizar aquilo que leremos, em seguida, no texto de André e Angie: pois a questão da estilística (e sobretudo de suas implicações, no estudo do discuso fotográfico) não compõe, rigorosamente, o assunto desta exploração, senão o quadro de pressupostos no interior do qual a análise se exercita. Não seria melhor apresentar as coisas assim? Ou seja, o objeto da exploração é a motivação do discurso visual nos dois autores, pelo investimento sobre as funções da plasticidade, nesse contexto. A estilística é apenas o pano de fundo desta questão.

Outro aspecto no qual esta introdução confunde seus objetivos com os pressupostos da pesquisa no grupo é quando indica as polêmicas que mantivemos, desde muito cedo, com as orientações linguísticas da semiologia estrutural, em seu modo de abordar o fenômeno fotográfico: além de não ser questão que se desenvolva, no decorrer do texto, enquanto tal, me parece que aqui se compromete a proposição sobre a qual se deseja desenvolver a argumentação da questão. Demarcar assim o ponto de partida da análise não  acarreta qualquer proveito na análise efetiva que vcs. realizar do plano plasticamente formado do discurso visual na fotografia.

Além do mais, estou convencido na prática da leitura desses textos barthesianos que há ali sutilezas e cintilações de uma abordagem semelhante a nossa, que não foram desenvolvidas pelos herdeiros da semiologia de primeira geração, mas que permanecem ali, no stextos, como gemas que pedem uma escavação mais atenta àquilo que, de certo modo, dispõe-se além das fronteiras da jurisdição semiológica. No trabalho da escritura desta parte do retrospecto crítico das teorias da fotografia, quero compartilhar com todos aqui algumas destas minha reavaliações de Barthes. Mas isto é outra história.

Em suma, acho que esta introdução deveria ser retomada, à luz de uma maior explicitação do que se faz efetivamente, a seguir, no texto mesmo, isto é: trazer ao primeiro plano (sem maiores frescuras ou explicitações de preâmbulos) a questão da plasticidade visual e suas funções possíveis na condução do discurso visual fotográfico. Outra coisa: é preciso destacar, na análise destes autores, a função precipuamente reportativa de que a imagem é investida, nos dois casos: decerto não escapa ao olhar de vcs. dois que o contexto da produção fotográfica de Cartier-Bresson e Verger é informação não-negligenciável, na análise que se pode fazer sobre como ambos operam como o registro plástico do discurso visual.

Amanhã tem mais.

Ad,

Benjamim


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