terça-feira, abril 06, 2010

Comentando o texto de André e Angie (3)

Queridos,

Depois do feriado, mais algumas ponderações sobre o texto de André e Angie, tentando orientar a discussão sobre as diferenças de natureza estilística em ambos: apenas como recordação, reitero que destaquei, nas mensagens anteriores a falta de um enquadramento mais expresso desta análise na questão dos modelos da reportagem visual em cada um deles (e que sugere a matriz do discurso visual no fotojornalismo em um dos casos, da etnografia visual no outro); além disto, considerei o modo como a caracterização dos elementos destacados na análise não explicita o viés plástico da construção do discurso visual nos dois mestres.

Pois bem, agora me interessa destacar dois desses elementos, a geometria e a instabilidade dos motivos fotográficos, em Verger e Cartier-Bresson: em primeiro lugar, sinto que falta esse nível de suficiente reiteração das ligações entre os elementos analisados (distância ou proximidade; instabilidade e composicão), tendo em vista a escolha metodológica da da análise e o quadro mais geral do problema que motiva o exercício (a caracterização do discurso reportativo na fotografia, nestas duas grandes vertentes). Do modo como os elementos estão jogados, fica a impressão de uma certa arbitrariedade da análise, que sabemos não ser o caso.

Além do mais, considero que o termo "instabilidade" é deveras complciado, aqui: no texto que fizemos Carol e eu, esta questão é destacada, a partir da questão sobre o lugar mesmo da instabilidade (ela é propriedade da imagem ou dos objetos apreendidos?). A depender do modo como abordamos esta questão, ela pode ou não nos interessar, na medida em que as escolhas estilísticas estão no horizonte mesmo do exercício. No texto, fala-se de instabilidade como se ela constituisse um dado (empírico? estético?), sem nenhuma conexão com suas possíveis conotações no regime mesmo do discurso visual da fotografia: como se coligam, por exemplo, com a dimensão etnográfica do trabalho de Verger? Falta este nível superior da articulação, sem o qual a análise é mera descrição dos caracteres de cada imagem.

O mesmo ocorre no caso da geometria, com um adendo: de uma maneira geral, o texto não faz recurso à literatura de base, na qual esta questão em especial emerge como um dos traços constitutivos do trabalho de Cartier-Bresson (o texto de Frizot passa em branco, em todo o espectro do argumento sobre a sensibilidade geométrica do mestre do fotojornalismo). Acho fundamental que as idéias da análise se articulem tanto em nível tópico (qual é o problema de fundo do artigo?) quanto em nível heurístico (quais são as teorias de base e de que modo elas são empregadas, na prática da análise?).

Mais comentários a seguir.

Ad,

Benjamim

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