sexta-feira, abril 09, 2010

Comentando o texto de André e Angie (4)

Queridos,

Mais pitaquinhos nos textos de André e Angie, tá quase acabando: agora discuto as questões relativas a argumentação de ambos sobre os elementos mais propriamente plásticos analisados no corpus adotado pelos autores. Em primeiro lugar, uma observação mais genérica, acho que o trabalho aqui me parece mais descritivo que analítico (ele discrimina as características do suposto estilo em cada um deles, mas não tira quaisquer consequências desta constatação, fato que já mencionei a respeito dos itens anteriores, não é mesmo?).

Em relação ao uso da luz, me parece que a questão da textura em Verger e da relação com a geometria em Cartir-Bresson me parece um escopo muito restrito das significações da obra dos dois: o que estas diferenças nos dizem ou prenunciam, no que respeita o desenvolvimento de uma linhagem mais associação à reportagem visual, de um lado, e a etnofotografia, de outro? Será que a escolha das superfícies sobre as quais a luz age não tem qualquer significação, neste contexto de análise? Me parece que a interpretação de vcs. não consegue ultrapassar o umbral reduzidamente "estético" do fenômeno fotográfico.

Vcs. falam em vetores de leitura nas imagens, mas em nenhum momento colocam em questão as diferenças de abordagem de visualização em Verger e Cartier-Bresson (por exemplo, a frequência com a qual olham as coisas "de cima" ou "de baixo" ou ainda, na linha mesma do olhar). Estes aspectos da organização e do posicionamento do olhar são plasticacmente significativos (isto é, se manifestam em sua significação como dados de plasticidade). Vcs. desconsideram esta dimensão das diferenças entre os dois.

Enfim, acho que há um manancial de questões que decerto poderão gerar um artigo, a partir deste trabalho inicial, mas acho que seria preciso organizar um pouco mais expressamente os propósitos mesmo do texto (a saber, a exploração da discursividade fotográfica, a partir de uma análise dos operadores plásticos desta manifestação, e tendo em vista sempre as linhas de fuga de cada uma dessas obras, na direção dos cânones da foto-reportagem e no regstro etnográfico da fotografia).

Ad,

Benjamim

terça-feira, abril 06, 2010

Comentando o texto de André e Angie (3)

Queridos,

Depois do feriado, mais algumas ponderações sobre o texto de André e Angie, tentando orientar a discussão sobre as diferenças de natureza estilística em ambos: apenas como recordação, reitero que destaquei, nas mensagens anteriores a falta de um enquadramento mais expresso desta análise na questão dos modelos da reportagem visual em cada um deles (e que sugere a matriz do discurso visual no fotojornalismo em um dos casos, da etnografia visual no outro); além disto, considerei o modo como a caracterização dos elementos destacados na análise não explicita o viés plástico da construção do discurso visual nos dois mestres.

Pois bem, agora me interessa destacar dois desses elementos, a geometria e a instabilidade dos motivos fotográficos, em Verger e Cartier-Bresson: em primeiro lugar, sinto que falta esse nível de suficiente reiteração das ligações entre os elementos analisados (distância ou proximidade; instabilidade e composicão), tendo em vista a escolha metodológica da da análise e o quadro mais geral do problema que motiva o exercício (a caracterização do discurso reportativo na fotografia, nestas duas grandes vertentes). Do modo como os elementos estão jogados, fica a impressão de uma certa arbitrariedade da análise, que sabemos não ser o caso.

Além do mais, considero que o termo "instabilidade" é deveras complciado, aqui: no texto que fizemos Carol e eu, esta questão é destacada, a partir da questão sobre o lugar mesmo da instabilidade (ela é propriedade da imagem ou dos objetos apreendidos?). A depender do modo como abordamos esta questão, ela pode ou não nos interessar, na medida em que as escolhas estilísticas estão no horizonte mesmo do exercício. No texto, fala-se de instabilidade como se ela constituisse um dado (empírico? estético?), sem nenhuma conexão com suas possíveis conotações no regime mesmo do discurso visual da fotografia: como se coligam, por exemplo, com a dimensão etnográfica do trabalho de Verger? Falta este nível superior da articulação, sem o qual a análise é mera descrição dos caracteres de cada imagem.

O mesmo ocorre no caso da geometria, com um adendo: de uma maneira geral, o texto não faz recurso à literatura de base, na qual esta questão em especial emerge como um dos traços constitutivos do trabalho de Cartier-Bresson (o texto de Frizot passa em branco, em todo o espectro do argumento sobre a sensibilidade geométrica do mestre do fotojornalismo). Acho fundamental que as idéias da análise se articulem tanto em nível tópico (qual é o problema de fundo do artigo?) quanto em nível heurístico (quais são as teorias de base e de que modo elas são empregadas, na prática da análise?).

Mais comentários a seguir.

Ad,

Benjamim

quinta-feira, abril 01, 2010

Comentando o texto de André e Angie (2)

Queridos,

Aí seguem algumas ponderações a mais sobre o texto de André e Angie, sobre a questão da plasticisdade em Cartier-Bresson e Verger. Detenho-me agora sobre a discussão acerca das escolhas temáticas dos dois fotógrafos. De saída, me parece que a definição mesma de que as temáticas sejam de algum interesse aqui é que me parece suscitar questões: não me parece que a temática de ambos seja algo a que o texto de vcs. deva se dedicar à parte, mas apenas o pressuposto sobre o qual definem o objeto mesmo da reflexão que pretendem, a saber, as matrizes plásticas do discurso visual (as tópicas humanas são apenas o dado de parâmetro para a comparação entre as diferentes abordagens de cada um deles).

Nestes termos, me pareceria mais interessante destacar na definição deste tema comum a ambos aquilo que faz ressoar em cada um deles o viés do etnólogo e o do repórter, e o modo como os operadores da plasticidade podem nos auxiliar na percepção dessas diferenças (por exemplo, o modo como se aproximam ou distanciam dos temas humanos, como valorizam a singularidade étnica dos motivos ou sua generalidade exótica). A mim parece que estas questões mereceriam um ataque da análise, desde seu início, pois a mim parece que vcs. antecedem a abordagem da questão central do texto de muitos pressupostos que vão sendo detalhados até o ponto em que o objeto mesmo já se dissolveu na leitura.

Neste caso, sugiro que esses primeiros párágrafos abordem a questão da temática, mas apontando expressamente a relação entre estas e o propósito mesmo do texto, a saber, chamar a atenção para a dimensão da plasticidade, como traço da estilística e da discursividade visual, própria ao trabalho de ambos.

O início da análise dos aspectos diferenciais deabordagem dos dois fotógrafos não me parece suficiente, à luz daquilo que adota como parâmetro de distinção: decerto que nos exemplos adotaos, a questão da distância e da proximdiade é um aspecto que se destaca como elemento de diferenciação, mas será que sua significação é aquela atribuída na interpretação de vcs., necessariamente (a saber, a distância conotando generalidade, a proximidade significando individuação dos motivos)? Tenho sérias dúvidas quanto a isto, porque há outros momentos em que esta mesma diferenciação acontece (invertidos os polos de Verger e Cartier-Bresson) e sua interpretação pode variar enormemente.


Acho que vcs. deveriam se restringir àquilo que auxilia a pensar a relação entre  as operações no plano da plasticidade e a configuração do sentido discursivo próprio a essas imagens: não se esqueçam, por exemplo, que quase todas elas foram realizadas no contexto da cobertura de acontecimentos, festas e ritos e é isto que ajuda a enquadrar os variados níveis da sensibilidadede cada um doeles com respeito às potencialidades da operação com oa fotografia. Em termos, deve-se perguntar: como é que o homem emerge como assunto fotográfico, uma vez que se valorizam tais ou quais elementos de sua tematização fotográfica?

Para não avançar em excesso, páro por aqui hoje. Amanhã tem mais.

Ad,

Benjamim